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Indígenas vão a Brasília apresentar suas demandas aos dirigentes da FUNAI

Comitiva indígena e servidores da CR Madeira na FUNAI em Brasília.

Comitiva indígena e servidores da CR Madeira na FUNAI em Brasília.

Uma comitiva composta por 11 indígenas das etnias Tenharim, Jiahui, Parintintin e Pirahã foi a Brasília acompanhada do Coordenador Regional e três Coordenadores Técnicos Locais da CR Madeira para apresentar suas reivindicações aos dirigentes da FUNAI. Foram oito reuniões realizadas entre os dias 27 e 29 de maio abordando temas como o impacto de grandes obras (Rodovia Transamazônica e Hidrelétrica Tabajara) e o desenvolvimento de projetos de turismo nas terras indígenas.

A Diretoria de Proteção Territorial da FUNAI se comprometeu em elaborar parecer técnico demonstrando os danos sofridos pelos Tenharim e Jiahui em função da construção da Transamazônica durante a ditadura militar. O documento irá colaborar com as investigações do Ministério Público Federal no âmbito de inquérito aberto para apurar violações aos direitos cometidas contra esses povos naquela época. A Transamazônica foi aberta pela empresa Paranapanema em 1970 sem considerar a existência desses povos ou implementar qualquer medida mitigadora ou compensatória dos impactos causados. Até hoje, a rodovia permanece como um passivo legal, sem licença para operar. Os Tenharim foram reduzidos a menos de 100 pessoas e os Jiahui quase desapareceram em função das doenças trazidas pelos trabalhadores.

A Diretoria de Promoção do Desenvolvimento Sustentável afirmou que o turismo em terras indígenas é uma prioridade da FUNAI e garantiu que está trabalhando para regulamentar a atividade até meados de 2014. Enquanto isso, a FUNAI continuará apoiando o desenvolvimento da pesca-esportiva no Rio Marmelos (TI Tenharim Marmelos) em caráter piloto a fim de subsidiar a definição de critérios que deverão compor a nova política de turismo do órgão. Os Parintintin apresentaram o trabalho desenvolvido na TI Nove de Janeiro onde, a partir de um diagnóstico prévio, o povo escolheu o eco-turismo como modelo de geração de renda ancorado em princípios de sustentabilidade socioambiental. Em parceria com as ONGs Kanindé e Conservação Estratégica, os Parintintin elaboraram um Plano de Negócios de Turismo. O projeto está sendo analisado pela FUNAI e deverá contar com o apoio da instituição assim que forem definidas as normas gerais do turismo em terras indígenas.

Os Pirahã tiveram a oportunidade de se reunir com a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) a fim de que sejam formuladas políticas específicas que garantam a proteção de seu território e seus direitos, em especial o respeito às suas formas próprias de organização social, costumes e língua. Eles são falantes de uma língua isolada e possuem uma visão de mundo completamente diferente da sociedade ocidental brasileira. Por isso, as políticas de saúde, educação e proteção territorial desenvolvidas pelos diferentes órgãos públicos que atuam junto aos Pirahã precisam ser formuladas e coordenadas com base nos princípios constitucionais de respeito à organização social, costumes e tradições do povo. A CR Madeira, com apoio da CGIIRC, irá organizar uma Oficina Pirahã em agosto deste ano onde iremos promover o debate em torno dessas questões buscando definir estratégias de trabalho que garantam a autonomia dos Pirahã frente às pressões da sociedade que os cerca.

A comitiva indígena retornou, então, a Humaitá satisfeita com os resultados das negociações e estão, neste momento, informando seus parentes nas aldeias sobre os encaminhamentos aprovados. A CR Madeira, por sua vez, também ficou satisfeita em poder viabilizar a viagem dos indígenas até Brasília, onde os grandes temas que hoje afligem os indígenas puderam ser tratados frente à frente com os dirigentes maiores da instituição.

Projeto Mbotawa

Esta semana do índio foi muito especial para os povos do Madeira. Além da celebração com marcha pela cidade, projeção de filmes, palestras e futebol, os Tenharim, em particular, tem muito o que comemorar.

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Jovem Tenharim participa da gravação do CD “Morogitá”.

É que entre os dias 16 a 18 de abril um grupo desses indígenas, liderados pelo Cacique Zeca Tenharim, veio a Humaitá para a gravação do CD “Morogitá”, de cantos e histórias, com lançamento previsto para julho, durante o Mbotawa, festa tradicional dos Tenharim. O CD é parte do Projeto Mbotawa, idealizado por Zeca, do clã Taravé-Gavião, chefe da Aldeia Marmelos IV e organizador da festa deste ano.

O cacique já coordenou a construção da Casa Ritual do Mbotawa, que recebeu o nome de “Ôga Tymãnu Torywa Ropira” e foi inaugurada no último dia 15 de abril em cerimônia na aldeia. Além da casa ritual, será construído o Museu Temporário do Povo Tenharim, que abrigará informações sobre a festa, sobre os Tenharim e sua história. A ideia é que os visitantes encontrem no Museu informações sobre as festas, rituais e a cultura material Kagwahiwa (auto-denominação Tenharim). O Museu abrigará, também, o ciclo de palestras “Diálogos do Morogitá” durante o Mbotawa, onde os Tenharim poderão conversar com convidados sobre temas atuais da política e movimento indígenas. Ao final, os organizadores buscarão apoio para editar uma publicação bilíngue com o título “Diálogos do Morogitá: saberes e fazeres do Mbotawa”, preenchendo a imensa lacuna de materiais existentes sobre os indígenas e podendo ser utilizado na Educação Básica, nos termos da lei 9394/1996. Com isso, os Tenharim, desde seu principal ritual, estarão contribuindo para a construção de novos olhares sobre os povos indígenas.

ImagemO Mbotawa é inteiramente organizado e executado pelos Tenharim, mas conta com o apoio de diversas instituições, como a APITEM – Associação do Povo Indígena Tenharim-Morogitá, a CR Madeira/FUNAI, o Núcleo de Estudos Afrodescendentes e Indígenas da UFAM (NEABI), a Secretaria para os Povos Indígenas e a Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Humaitá, além do Ministério da Cultura através do Prêmio Culturas Indígenas.

A equipe de organização do evento é liderada por Márcio Tenharim, Marcos Tenharim e Deudsmar Tenharim, além do Conselho de Lideranças, composto por Zeca, Bosco, Léo, Antônio Enésio, Ivanildo, Zelito, Aurélio, João Sena, Domingos, Duca, Isaque, Ponciano, Domar, Agostinho, Dorian e Pedro Peruano. Sandoval Amparo, geógrafo da CR Madeira, é o técnico responsável pelo apoio da FUNAI à realização da festa. Segundo ele, “o Mbotawa está possibilitando trazer a tradição indígena para o centro do debate indigenista, já que é o grande patrimônio destes povos. Neste ano, estamos com duas iniciativas habilitadas concorrendo ao Prêmio Culturas Indígenas e as parcerias mobilizadas até o momento, tem mostrado o grande valor atribuído pela sociedade brasileira a este patrimônio da humanidade de rara beleza estética”.

Os interessados em participar do Mbotawa, que se realizará entre 16 e 20 de julho, ou em apoiar a sua realização deverão entrar em contato através do email: apitem@yahoo.com.br ou pelos telefones 97-3373-3670 ou 97-8105-2298. Outras informações podem ser obtidas na página do Mbotawa no Facebook: www.facebook.com.br/mbotawa2013