CR Madeira acompanha o processo de retorno dos remanescentes Juma à sua terra tradicional.

        ImagemO Coordenador Regional da CR Madeira, Ivã Bocchini e sua assistente Marina Villarinho, junto a membros da ONG Kanindé, estiveram na Terra Indígena Juma, acompanhando o processo de retorno dos remanescentes dessa etnia às terras por eles tradicionalmente ocupadas, da qual foram removidos em circunstâncias obscuras para a Casa do Índio em Porto Velho/RO e, posteriormente, para a aldeia Alto Jamari, junto aos Uru-eu-wau-wau, etnia pertencente ao grupo Kagwahiva, falantes da mesma língua que os Juma e com traços culturais semelhantes.

Reduzidos a um único grupo familiar, são os quatro últimos Juma que se tem notícia: entre eles um senhor de mais de 70 anos e suas três filhas, hoje casadas com índios Uru-eu-wau-wau, com quem constituíram família – uma vez que não há possibilidade matrimoniais internas.   

Segundo registros históricos, os Juma somavam de 12 a 15 mil índios no século XVIII. Devido a expansão das frentes extrativistas, seguiram-se sucessivos massacres numa guerra que durou mais de 70 anos entre a sociedade brasileira e os índios, uma vez que estes se recusavam a submissão e buscavam o isolamento. Expedições punitivas foram diversas vezes organizadas por firmas colonizadoras, companhias de navegação, proprietários de terra, comerciantes e extrativistas, o que faz parte de um contexto geral na Amazônia durante os séculos passados. Os Juma se viram reduzidos a poucas dezenas na década de 1960, quando ocorreu o último genocídio. Comerciais da região organizaram um massacre em que mataram em uma mesma ocasião cerca de 60 índios. À época, sobreviveram apenas oito Juma, levando a etnia próxima a extinção.

Os Juma jamais pretenderam deixar suas terras. Partiram, inclusive, com a intenção de voltar – largaram pertences pessoais para trás, pois imaginavam um retorno breve, que no entanto não aconteceu. A transferência à Aldeia Alto Jamari acarretou no falecimento de um casal de idosos Juma ainda no final do ano de 98, sintomático da inadaptação sócio-cultural. Ao longo de mais de 10 anos, os Juma sofreram um impasse relativo ao retorno ou não a sua antiga região, gerando frustração e desgosto, principalmente ao velho Juma Aruká, que já estava desacreditado e deprimido, isolado e longe do convívio social.

Em 2008, dez anos após a remoção, o Ministério Público Federal entrou com uma Ação Civil Pública e obrigou a FUNAI a promover o retorno dos Juma. Trata-se de um processo difícil, pois em 10 anos de convivência com os Uru-eu-wau-wau nove crianças nasceram fruto do casamento interétnico, criando laços indissolúveis com o Alto Jamari. A vontade do retorno, no entanto, é grande e hoje já há uma casa construída na nova Aldeia Juma, bem como uma cozinha externa feita tradicionalmente e um tapiri pronto para receber os fornos de torrar farinha. Há um gerador de energia, uma roça feita e outra por queimar. Será instalada também uma bomba d’água e agora os Juma estão reivindicando uma escola, já que seus filhos tem de ficar na aldeia Alto Jamari durante o período letivo para seguir os estudos.

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Cozinha externa construída no estilo Juma.

Ao longo desses dias, foi possível visitar o castanhal mais próximo da aldeia, que já está sendo novamente explorado pelos índios, e o cemitério da mulher de Aruká, mãe das Juma. Lá será feito ainda neste ano uma maloca tradicional. Foi possível também acompanhar o dia-a-dia de trabalho na aldeia em que os índios seguem cuidando da roça, caçando, pescando, fazendo artesanato e construindo a segunda casa da aldeia. O velho Aruká está animado e voltou à ativa, é visto o dia todo trabalhando, assando caça, confeccionando flechas, colhendo frutos, fazendo chicha e farinha tradicional. Já sorri mais e interage bem com a família, que cresce.

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Velho Aruká moqueando a mandioca para o preparo da chicha.

   

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